O Spitfire será provavelmente uma das aeronaves mais simbólicas da aviação. Era um caça magnifico que serviu em várias Forças Aéreas; diz quem teve a oportunidade de voar estas aeronaves (ainda há Spitfires a voar havendo mesmo uma versão adaptada para um passageiro), que a sua manobralidade é excelente. As aeronaves Portuguesas (em número superior a 100 unidades) vieram ao abrigo da utilização do Arquipélago dos Açores (Lages) como ponto de apoio para as forças aeronavais Britânicas na Segunda Guerra Mundial.
Spitfires Portugueses, da Base da Ota (1944/52) em patrulha sobre o Cabo de São Vicente
Os primeiros Spitfire Portugueses chegaram em 1942, ficando baseados inicialmente na Base Aérea 3 (Tancos) e, em posteriores entregas, na Base Aérea 2 (Ota). A frota Spitfire Nacional foi abatida ao efectivo em 1955, quando em que as ultimas aeronaves já só estavam a voar na BA 1 (Sintra) como avião de instrução para alta performance.
Durante a segunda metade dos anos quarenta, com 112 Supermarine Spitfire, aos quais se juntaram 140 caça-bombardeiros Hawker Hurricane, Portugal dispôs de um respeitável poder aéreo, jamais igualado. Esse poder aéreo justificava-se plenamente porque Hitler planeava atacar Gibraltar (Operação Félix) e Portugal seria invadido (com o apoio de Divisões Espanholas) caso os reforços Ingleses a Gibraltar desembarcassem na costa Portuguesa. A Operação Félix só não chegou a ocorrer por desentendimentos de contrapartidas com Espanha.
O secretário-Geral das Nações Unidas – António Guterres – disse recentemente: “O conflito Sírio entrou no seu 10º ano, contudo a Paz continua a ser uma ilusão. Este conflito brutal causou um custo humano inconsciente e provocou uma crise humanitária de proporções monumentais”.
Em 2012,durante uma missão das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) recebi instruções para coordenar e facilitar junto das autoridades aeronáuticas da ISAF (NATO), em Cabul, o envio urgente de 60 carros todo-o-terreno blindados para a Síria. Conduzi pessoalmente parte desses veículos para dentro dos aviões de carga que, durante vários dias, vieram a Cabul buscar a preciosa carga para o sucesso da ONU na Síria. A UNAMA juntava-se assim ao esforço mundial da ONU para ajudar a resolução do conflito Sírio, enviando uma parte importante do seu parque automóvel para a sua missão irmã em Damasco.
Embarque para Síria de 16 veículos blindados por cada Boeing 747 cargo -Cabul 2012
Contudo, passadas algumas semanas foi a desilusão total quando soubemos que a situação de segurança na Síria se tinha degradado de tal maneira que tiveram de suspender as actividades da ONU naquele País, e evacuar os capacetes azuis. Os 60 carros blindados da UNAMA ficaram lá, .., sabe Deus nas mãos de quem e com que finalidade.
Passados quase 10 anos do início do conflito, a guerra na Síria não decresceu de intensidade, muito pelo contrário; passou a envolver potências estrangeiras, com nuances da Guerra Fria a terem tempo de antena mediática.
Porém, algo menos noticiado e, na minha opinião muito perigoso, tem vindo a ocorrer com consequências potencialmente desastrosas para todo o mundo. Aparentemente, as forças em conflito na Síria tinham um “apetite especial” por atacar e destruir instalações Hospitalares. Segundo um relatório das Nações Unidas mais de metade dessas instalações e equipamentos foram destruídos.
Simultaneamente, os movimentos de pessoas deslocadas das suas zonas residenciais atingiu números astronómicos (perto de dois milhões somente na região de fronteira com a Turquia). A Turquia tem dezenas de milhares de refugiados Sírios dentro do seu território, servindo de tampão para a União Europeia; situação que Ancara ameaçou poder vir a deixar de manter, como forma de pressão política para a União Europeia. Agora vem a derradeira pergunta, actualizada aos mais recentes acontecimentos: “Como é que tudo isto reage à pandemia do Corona vírus?”
Concentrações de pessoas sem qualquer tipo de protecção contra a inclemência do clima; sem apoio de infra-estruturas médicas; com o risco elevadíssimo de contágio pelo novo vírus; às portas da Turquia que, por sua vez, tem uma população imensa com forte implementação na Europa. Como é que isto vai ser?
Ou me engano muito, ou Donald Trump vai faltar-se de rir quando vir o seu muro a ter novas versões nas fronteiras externas da Europa.
Ou seja … entandam de uma vez que as guerras dos outros … são as nossas guerras também. Parem!
No seguimento do sucesso tático dos helicópteros Alouette II e III em África, a Força Aérea recebeu, entre 1969 e 1971, 13 helicópteros Sud-Aviation SA-330 Puma. Parte dessas aeronaves seguiram para a Base Aérea 9, em Luanda (Angola) e outra parte para o Aeródromo Base n.º 7 em Tete (Moçambique).
O SA-330 Puma era um helicóptero biturbina, tripulado por 2 pilotos e um mecânico, com capacidade de transportar até 20 militares equipados para combate. Em alternativa podia ser configurado para transportar 8 passageiros VIP ou 16 passageiros em bancos normais. Na versão de evacuação sanitária podia transportar 6 macas e 4 assistentes. Na configuração de carga transportava 2.300 Kg de carga interior ou 2.500 Kg de carga suspensa. Tinha um raio de acção de 560 km, velocidade máxima de 310 km/h e um tecto de serviço de 5.600m.
Após regressarem da Guerra do Ultramar, os Pumas foram colocados na Base Aérea 6 Montijo (Esquadra 751) e na Base Aérea 4 Lages – Açores (Esquadra 752). Em 2005 a frota Puma foi desactivada devido à aquisição do novo helicóptero EH-101 Merlin. Contudo, devido a dificuldades de manutenção dos EH-101, em 2008, 4 dos Pumas foram reintroduzidos no arsenal da Força Aérea (Operação Fenix), voltando a voar na BA4 na Esquadra mista (SA-330 e C-212) 711.
Dedicados à Busca e Salvamento, após o conflito ultramarino os SA-330 salvaram 4280 vidas, 2482 das quais, no arquipélago dos Açores e, também nos Açores, nasceram a bordo dos Pumas 16 crianças. A frota Puma teve o seu fim (final) em 2011.
O Museu do Ar tem um dos Pumas em exposição estática em Sintra, com a particularidade desta ter sido a aeronave onde sua Santidade o Papa João Paulo II voou quando esteve em Portugal. Uma vez que o Puma é uma aeronave cuja plataforma fica relativamente elevada em relação ao solo quando aterrado, e como sua Santidade trajava as vestes tradicionais de Papa, não tinha amplitude de pernas para subir abordo, pelo que teve de se fazer umas escadinhas de dois degraus em madeira. Depois de Sua Santidade voltar ao Vaticano, as ditas escadinhas desapareceram na voracidade religiosa de quem teve acesso às mesmas.
After the establishment of Dayton’s Agreements (December 1995) to end the conflict in Bosnia Herzegovina, the UN (UNPROFOR) handed over to NATO ‘s Implementation Force (IFOR) the task of supervising the implementation of the Agreement. IFOR had approximately 60.000 soldiers in its Area of Responsibility (AOR). One year after that, IFOR had successfully finished its mission and reached its “end-date”, and NATO implemented a Stabilization Force (SFOR), which was subsequently activated on 20 December 1996, the date the IFOR mandate expired. Initially, SFOR’s size was around 32,000 troops, approximately half that of IFOR, and later reduced even further to 12.000. SFOR operation was brought to a successful end on 2 December 2005, and the European Union to over from NATO with a (EUFOR) force of 7.000 military personnel, with Operation Althea.
Flag ceremony in Camp Butmir – Operation Althea (2007)
With fewer troops in the AOR EUFOR had to have eyes and ears throughout the country to provide enough reaction time to react. Therefore, in February 2007, the troop levels was educed to around 1,600 but the Althea (the healing Greek Goddess) incremented its overall situational awareness by following the example of the United Nations Military Observers (UNMO) teams model, and implemented 45 Liaison and Observation Teams (LOTs) throughout the Country.
However, unlike the UNMO system, the LOT did not have a multinational constitution and they were not fully controlled or financed by the European Union. LOT houses were equipped and financed by the Troop Contributing Nation, and the personnel of the LOT were all from that same nation. The constitution of the Team (team member numbers, ranks, male/female, expertise, weapons, vehicles, etc.) was all a National responsibility. The LOT modus operandi was the result of bilateral agreements between the TCN and the Government of Bosnia Herzegovina. The EU (Althea) had the tactical control of their activities in the AOR.
The LOTs work was critical for Althea’s the Command and Control, because (much like the UNMO for the UN) they were a key element of the EUFOR Situational Awareness (SA). They were the ‘feet on the ground’ of the mission, living in rented houses among the population; hence the principal visible presence of EUFOR throughout the country.
LOT tasks were:
Reports on the situation in their area of operations (AOO);
Investigate and prompt response to short notice Requests for Information (RFI) about events in their AOO;
Exercise liaison with International Organizations and with Bosnia Herzegovina’s Organizations Local authorities (Civ/Mil);
Be prepared to support information and/or media activities as tasked;
Maintain up to date plans for emergencies and evacuation.
Although it was a National responsibility to define the constitution of the LOT, the composition of such teams should encompass the capability to maintain 2 Patrols in the field, cover LOT House security and communications duty on a 24 hour basis and allow for personnel on leave. Strengths would normally vary between 6 and 10 military personnel (lead by a Lieutenant Colonel), along with 3 to 5 Local Staff. Each LOT should be able to maintain at least 75% of its strength in the LOT AOR at all times.
In 2012, following another force restructuring, Operation Althea was further reduced to just about 600 staff members, mainly dedicate to collective and combined training of the Bosnian Armed Forces.
T-6 do MUSAR com a pintura do 50º Aniversário da Força Aérea (2002)
O North American T-6 Harvard é uma aeronave icónica em qualquer lado do Mundo; desde a Segunda Guerra Mundial até à actualidade. Foram produzidos cerca de 17.000 unidades em vários países, sob licença Americana, tendo voado em múltiplas configurações em mais de 50 forças armadas. Os primeiros T-6 portugueses chegaram em 1947, para equipar as unidades de instrução de pilotagem do Exército (Aeronáutica Militar), na BA-1 – Sintra. A Marinha Portuguesa seguiu o exemplo e também adquiriu T-6 para instrução, no Centro de Aviação Naval de São Jacinto. Em 1952, com a criação da Força Aérea Portuguesa, todos esses aparelhos transitaram para a FAP, tendo sido adquiridos ainda mais T-6.
T-6 sobrevoando a Base Aérea de Sintra (anos 50)
Com o conflito nas Províncias Ultramarinas, a FAP viu-se forçada a adaptar os T-6 em aviões de combate, uma vez que Portugal estava sob embargo de armas imposto pelas Nações Unidas. Os T-6 da FAP combateram em Angola, Guiné e Moçambique. Os T-6 portugueses foram abatidos ao efectivo da FAP em 1978, continuando a voar no Museu do Ar por mais de duas décadas. A FAP chegou a ter mais de 250 T-6 a voar nos vários teatros de operações. Atualmente nenhum T-6 português está em estado de voo (em Portugal), mas o Museu do Ar tem várias unidades em exposição e reservas museológicas.
A certain day, in 2013, at the United Nations civilian compound in Afghanistan’s Central Highlands – Bamyan – there was a rumor that someone was going to conduct an old style Christian catholic mass, somewhere down town.
Bamyan streets (2013)
The invitation came in a closed door environment, with a whispering voice, as if it was “classified information”. In fact, the subject deserved such precautions because that was the “Islamic Republic of Afghanistan”, where the official practice of other religions was not permitted.
– “A Christian mass? Here? Isn´t that illegal? – I asked surprised.
– “Shush!” – Imposed my interlocutor. – “You want to come or not?”
– “Off course I want to come! When do we leave?” – I answered, expecting yet another afghani adventure.
– “We leave at sun-set. Make sure you don’t wear a military uniform.”
In Afghanistan, the only place officially authorized to conduct a Christian Mass was the chapel inside the Italian Embassy. The reason for that exception was because Italy was the very first country to recognize Afghanistan’s independence, in 1919. In thankfulness of Italy’s recognition, the Afghani King – Amanullah Khan – asked Rome what they would like to receive as a token of appreciation. That was a delicate question; it would have to be accepted – otherwise it would offend the King – and it would have to be symbolic. It would also have to bring some sort of special primacy to the Italian Embassy in Kabul, regarding the rest of the international diplomatic corps. Therefore, the Italian Government asked permission to conduct (officially) Christian Catholic Mass inside their Embassy’s perimeter, and that the Mass could have the audience of other people beyond the Italian community. The request was accepted as an exceptional measure, and all the international staff started to go on Sundays to the Italian Embassy. Even during the Taliban hardliner domination that ceremony was exceptionally permitted.
Bamyan region is inhabited by the Hazara ethnic group (descendants of Genghis Khan’s Mongols), which are known to be very friendly and permissible to westerns’ attitudes. Nevertheless, it was not a good idea to abuse one’s luck, and the entire subject was handled in confidentiality. It felt like the medieval Roman times, when the first Christian believers started their cult.
When twilight descended over Bamyan, a small group of five left the UNAMA compound, in a vehicle, without fuss. We carried a basket with dinner for ten, denouncing we were not going to have an evening picnic just for us. Closer to our destination, we parked the vehicle inside the premises of a friendly NGO, and continued on foot to our terminus. We moved silently, among the narrow streets of mud-bricks walls, trying not to stumble in the irregular pavement covered with snow patches. The moon had difficulty to show us where to go, and occasionally we had to use a flash light to find our way. It was cold; hence we were all wearing our Afghani blankets – “Patu” – which increased the medieval environment of our quest. The only sound was a distant dog, barking to denounce some wild animal that had descended from the surrounding mountains to heat on Bamyan’s garbage.
Our silence was broken when we arrived at a large gate, and gently announced our presence at the door. There were no passwords or special signs, we were expected and we couldn’t full any one; it was obvious what we had come for.
– “Good evening.” – Said the man inside the gate, in perfect English. – “Please come in; Father Andrew is waiting for you.”
Father Andrew was a Jesuit missioner, working on humanitarian support in Bamyan region. There were several Jesuit missioners in the house, constituting a nucleus of their order for that region. The Jesuits had traditions in Afghanistan, from the XVI Century. It all started with a small group headed by the Portuguese missioner Bento de Gois (1581) who practice his religion in Western Asia (no days Afghanistan). However, Father Andrew and the rest of his (2013) Jesuits were from the Philippines.
We crossed the large yard and, upon arriving at the house, we took off our shoes and delivered the food to another employee, which received us with an ample “Assalam-u-Aleikum” (may the peace be with you) placing his right hand over his heart while smiling at us. That was a gesture of truthfulness and hospitality.
The fragile electric light was coming from a (conveniently) noise generator, just outside the window. No one outside the house could really hear what was being said inside those walls, due to that generator. Three Jesuits and two afghan employees awaited the UN staff. After the fulfilling the arriving protocol of greetings, everybody set down over wide pillows on the floor, which covered with exquisite Persian carpets, and tea was served.
Some moments after, the employees received an eye signal from one of the Jesuits, and left the room. Father Andrew started to explain the ceremony that was going to occur, it was going to follow the old style service, were the scriptures were supposed to be “interpreted” by the audience, rather than simply read/announced by Jesus’ minister. He then invited the group to follow him.
Behind a curtain there was a low door, giving access to the basement´s stairs. At the basement, the other two Jesuits dragged away a closet revealing yet another entrance to a dark place. That hall in the wall was no more than 1,5 meters high and 90 centimeters wide. A narrow entrance to a dark room without any windows. That was the “Temple”. Father Andrew entered first and lighted several candles, in order for the rest of the people to see their way in. The reduce dimensions of the “door” forced the audience to enter one-by-one, with a deep bow. Inside the temple, it looked like an igloo. The room had been excavated on the sandy rock, with no more than nine square meters, with wall niches instead of windows, and a ceiling dome denouncing the help of mother nature in the construction of the Temple. Ceiling and walls were all painted in white, there were aromatic candles lighted on the niches, and the floor was completely covered with beautiful Persian carpets and large pillows. Opposite to the entrance there was a low table, which was used as the Temple’s Altar. Everybody set and the closet was pushed back to its original place, sealing the entrance, by the afghan employees.
The ritual started, in English, with the reading of the Bible. At a certain moment, Father Andrew stopped and assigned to each one on the audience the role of a character in the scene he had just read. It was time to interpret the Bible. After a meditation moment about each one’s character on the scene, everybody expressed what his/hers interpretation and feelings. That was no more a normal Mass; it was an “Anonymous Christian Gathering”.
–“Hello; my name is Judas and today I have sinned.”
It was intense!
The liturgy ended with the regular ceremonial acts, upon which we all returned up to the ground floor and had dinner, very much alike the Last Supper scene, both on the layout and the ritual.
That must have been one of the most enriching experiences I have in Afghanistan. It was just like time travel, back to the Roman Empire. The first Christians also had to conduct their ceremonies in a clandestine way, with secrecy, in reduced groups, inside small caves under the night’s shadowed protection.
Numa certa tarde de 2013, no aquartelamento civil da ONU na Região Central das Terras Altas do Afeganistão – em Bamyan – corria o rumor que iria acontecer uma cerimónia religiosa Cristã algures num local recôndito da Cidade. O convite foi apresentado à porta fechada, em voz baixa, de uma forma quase sigilosa, como se de um “assunto classificado” se tratasse. O caso não era para menos; o próprio nome do País era “República Islâmica do Afeganistão” onde, oficialmente, não se podiam praticar outras religiões.
Bamyan (2013) – Terras Altas do Centro do Afeganistão
– “Uma missa Cristã?” – Perguntei surpreendido. – “Aqui? Mas isso não é ilegal?”
– “Chiu, … ” – Silenciou-me imperativamente o interlocutor – “Queres ir ou não?”
– “Obviamente que sim. Quando partimos?” – Respondi; em busca de mais uma aventura.
– “Vamos ao pôr-do-sol. Certifica-te que não vais fardado!”
No Afeganistão, o único local onde se podia celebrar oficialmente a Missa Cristã era na capela da Embaixada de Itália, em Cabul. A razão desta excepção devia-se ao facto de, em 1919, a Itália ter sido o primeiro país a reconhecer o Afeganistão como um país independente e soberano. Assim, em reconhecimento pelo apoio de Itália, o Rei Afegão – Amanullah Khan – perguntou ao Governo Transalpino qual seria o regime de excepção que lhes poderia oferecer em Cabul. O Protocolo de Estado ditava que este tipo de ofertas não poderiam ser declinadas, mas a resposta teria de ser algo simbólico e devia de oferecer relevância à Embaixada de Itália em relação ao resto do Corpo Diplomático que viesse a ser instalado em Cabul. Desta forma, os italianos solicitaram autorização para poderem celebrar oficialmente o ritual religioso Cristão, no interior da sua embaixada, podendo receber nesse ritual todos os elementos internacionais que desejassem assistir à missa. As autoridades afegãs aceitaram o pedido e a Embaixada de Itália passou a ser o único local no Afeganistão onde se podia celebrar a missa Cristã; até mesmo durante o tempo do Regime Talibã essa excepção continuou a ser aceite.
A região de Bamyan era essencialmente habituada pela etnia Hazara (descendentes mongóis de Genghis Khan) os quais eram bastante tolerantes aos costumes ocidentais; contudo, não convinha abusar da sorte e o assunto da missa Cristã foi tratado com sigilo. O assunto tinha nuances medievais de culto proibido, como na época do Império Romano, quando apareceram os primeiros Cristãos.
Quando o crepúsculo caiu sobre Bamyan, um pequeno grupo de cinco elementos internacionais partiu de carro, sem grande alarido, das instalações da UNAMA. Levávamos connosco um cabaz com refeições para dez pessoas, demonstrando que não íamos jantar sozinhos. Depois de chegarmos às vizinhanças do nosso destino, deixámos o carro nas instalações de uma ONG conhecida e deslocámo-nos silenciosamente a pé, pelas ruas estreitas da aldeia, que o luar tinha dificuldade em alumiar, procurando não tropeçar nos montes de neve que cobria o solo irregular. Estava frio, pelo que todos envergávamos a tradicional e confortável capa/manta de lã – “Patu” – que nos dava um aspeto ainda mais medieval. O único som que se ouvia era um distante cão de guarda, que procurava denunciar a presença de algum animal bravio, que tivesse descido à aldeia em busca de alimento no lixo. Ocasionalmente acendíamos uma lanterna, para nos mostrar melhor uma esquina em tijolos de lama ou o chão enlameado, coberto por alguma neve recente.
O nosso silêncio só foi quebrado ao chegarmos aos portões altos, de uma determinada habitação. Não houve palavras-chave nem senha e contra-senha, porque o nosso aspeto era por demais denunciador de quem eramos e ao que vínhamos.
–“Boa noite.” – Disse em bom Inglês um empregado local. – “Entrem por favor, o Padre André está à vossa espera.”
O Padre André era um missionário Jesuíta, que fazia trabalho humanitário voluntário na região. Com ele trabalhavam outros jesuítas, que constituíam um pequeno núcleo dedicado a contribuir para o bem-estar das populações onde se instalavam.
Os Jesuítas tinham pergaminhos no Afeganistão desde tempos remotos. O padre português Bento de Gois, em 1581, esteve entre os primeiros jesuítas a pregarem em terras afegãs, que na altura se chamava Ásia Ocidental. Contudo, os jesuítas com que interagíamos em 2013 tinham a sua origem nas Filipinas.
Cruzámos os portões e, após atravessarmos um amplo pátio a céu aberto, chegámos à casa propriamente dita. Descalçamo-nos e entregámos a comida a um outro empregado local que nos recebeu com um amplo e respeitoso sorriso, colocando a mão no peito enquanto dizia: – “Assalam-u-Aleikum” (a paz esteja contigo).
A fraca luz elétrica era providenciada por um velho gerador, que trabalhava do lado de fora da casa, e que era convenientemente ruidoso para abafar as conversas que se tinham lá dentro.
No interior da sala estavam três Jesuítas e dois empregados afegãos. Após as tradicionais apresentações, sentamo-nos no chão, sobre um belo tapete persa, e bebemos o chá de boas-vindas, à boa maneira afegã.
Passados alguns momentos, os empregados afegãos receberam um sinal no olhar do Padre André e saíram da sala.
O Jesuíta passou a explicar que iria celebrar a missa de acordo com os métodos antigos, onde a leitura das escrituras seria mais interpretativa por parte da audiência do que sentenciosa por parte do ministro de Jesus. Em seguida levantou-se e convidou o pequeno grupo a segui-lo.
Atrás de um cortinado havia uma porta baixa que dava acesso a um lance de escadas para a cave da habitação. Sob o olhar atento do Padre André, os outros dois jesuítas afastaram um armário que guardava pequenas alfaias agrícolas e deparou-se-nos uma pequena e escura abertura na parede, com cerca de um metro e meio de altura e 90 centímetros de largura. Era o acesso ao “Templo”. O Padre André agachou-se e entrou no buraco. Passados uns segundos a cavidade iluminou-se com a luz trémula de várias velas. Um após o outro, entrámos no “Templo”. A reduzida abertura, que tinha de ser ultrapassada com uma profunda vénia, dava acesso a uma pequena gruta cavada na parede arenosa como se fosse um igloo. O “Templo” não teria mais de nove metros quadrados, sem qualquer janela, mas tinha um teto abobadado bastante alto, que denunciava o trabalho da mãe natureza no empreendimento. As paredes estavam caídas de branco e tinham pequenos nichos esculpidos na rocha, onde o jesuíta tinha colocado velas aromáticas que davam um ambiente místico ao compartimento. O chão estava completamente forrado com bonitos tapetes persas e grandes almofadões para nos sentarmos. Oposto à entrada estava uma pequena mesa, muito baixa, que servia de altar.
O Padre André posicionou-se atrás da mesa e nesse momento alguém voltou a arrastar o armário das alfaias para a parede, selando assim a entrada do “Templo”.
– “Não se preocupem, é só o meu pessoal a “fechar a porta”, …, está tudo bem!” – Tranquilizou-nos o Padre André.
O ritual religioso iniciou-se, em língua Inglesa, cumprindo os preceitos de uma missa cristã. A dado momento o Padre André convidou a assistência a sentar-se e começou a ler uma passagem da Bíblia. Depois, um por um, atribuiu a cada um dos participantes o papel de uma das personagens daquela passagem bíblica, para uma reconstituição da situação reportada no documento sagrado. Passados uns momentos de introspecção, os presentes explicaram o que haviam sentido ao meditarem sobre a atuação do sue personagem. Aquilo já não era uma missa mas sim uma “sessão de Cristão Anónimos”.
– “Olá, eu sou Judas e hoje eu pequei…”
A liturgia acabou com cerimonial habitual, mas não houve a comunhão do pão e do vinho, uma vez que isso fez parte da refeição propriamente dito que se seguiria, sentados em volta de uma mesa, de uma forma muito parecida com a Última Seia.
Foi uma experiencia enriquecedora e indelével, independentemente do fervor religioso de cada um dos presentes. Foi como viajar vários séculos no tempo e ter a oportunidade de ver a forma como os primeiros cristãos faziam as suas cerimónias clandestinas. Também eles teriam grupos muito pequenos e íntimos; também eles se deveriam ter movido nas sombras para chegarem ao “Templo”; também eles se deviam ter escondido numa qualquer gruta, feita numa cave, para evitar consequências desagradáveis das autoridades locais.
O F-86 Sabre foi um dos aviões mais produzidos na história da aviação. Portugal recebeu os primeiros F-86 em 1958, ao abrigo das contrapartidas do acordo das Lajes. Inicialmente os Sabre ficaram na BA-2 Ota, até a BA-5 Monte Real ficar operacional e pronta a receber as duas esquadras Portuguesas de F-86, os “Falcões” (com faixas azuis) e os “Galos” (com faixas vermelhas). Em 1959 Monte Real ficou operacional.
Com o início das actividades insurgentes nas Províncias Ultramarinas, em 1961, a Esquadra dos Galos foi desactivada e os sues pilotos reforçaram a Esquadra dos Falcões, tendo oito aviões partido para a Guiné, numa viagem de 3 800Km o equivalente a seis horas e dez minutos de voo, um recorde para Força Aérea Portuguesa ao tempo, que os levou até Bissalanca (Operação Atlas).
Atendendo a que os F-86 tinham sido fornecidos no âmbito da NATO, e que Portugal estava debaixo de sanções da ONU à altura devido à sua política em África, os Estados Unidos pressionaram o Governo Português para os F-86 deixaram de operar na Guiné a partir de 1964. O último voo dos F-86 foi a 31 de Julho de 1980, tendo a frota sido abatida ao efectivo da FAP após esse voo.
Em Janeiro de 1995, a missão das Nações Unidas para monitorizar o(s) conflito(s) na ex-Jugoslávia – UNPROFOR – tinha 38.599 pessoal militar, oriundo de 37 Países Contribuidores de Forças (Troop Contributing Countries TCN): Argentina, Bangladesh, Bélgica, Brasil, Canadá, Colômbia, República Checa, Dinamarca, Egipto, Finlândia, França, Gana, Indonésia, Irlanda, Jordânia, Quénia, Lituânia, Malásia, Nepal, Países Baixos, Nova Zelândia, Nigéria, Noruega, Paquistão, Polónia, Portugal, Rússia, Eslováquia, Espanha, Suécia, Suíça, Tunísia, Turquia, Ucrânia, Reino Unido, Estados Unidos e Venezuela.
Dos 38.599 militares, 684 (normalmente capitães OF2) eram Observadores Militares da ONU (UNMO) que operavam em equipas (teams) internacionais. A constituição dos teams de UNMOs deveria reflectir imparcialidade aos olhos das forças beligerantes no terreno, pelo que a ONU usava uma metodologia na constituição dos teams conhecida por “Balanço Nacional” (National Balance). A fim de se assegurar que não havia interferências nem agendas escondidas das potências estrangeiras, a ONU fazia questão de misturar na mesma equipa UNMO oficias Europeus com Africanos e Asiáticos; misturar culturas e crenças religiosas; e não repetir a mesma nação dentro da mesma equipa. Isso dava um “sabor” muito particular às equipas de UNMOs.
Esta mescla de culturas tinha muitas vantagens na busca de soluções, mas acarretava dificuldades no relacionamento operacional, uma vez que diferentes continentes tendiam a ter procedimentos e conhecimentos militares muito distintos. A própria linguagem ONU era uma séria restrição a qualquer principiante na UNPROFOR. A primeira causa de baixas psicológicas era o próprio Léxico da UN.
Se uma expressão era usada mais de três vezes, passava a ter um acrónimo. Havia mesmo adjectivos e verbos feitos a partir de acrónimos.
In January 1995, the UN mission for the Yugoslav conflict(s) – UNPROFOR – had 38.599 military personnel from 37 Troop Contributing Nations(TCN): Argentina, Bangladesh, Belgium, Brazil, Canada, Colombia, Czech Republic, Denmark, Egypt, Finland, France, Ghana, Indonesia, Ireland, Jordan, Kenya, Lithuania, Malaysia, Nepal, The Netherlands, New Zealand, Nigeria, Norway, Pakistan, Poland, Portugal, the Russian Federation, Slovak Republic, Spain, Sweden, Switzerland, Tunisia, Turkey, Ukraine, the United Kingdom, the United States and Venezuela.
Out of those 38.599 military, the UN picked 684 officers (normally captains OF2) to construct teams of Military Observers (UNMO). Those teams’ constitution was supposed to look impartial to the local belligerent factions, hence the UNPROFOR HQ used a method known as “National Balance”, to make sure there were no foreigner hidden agendas in the UNMO team’s performance. That meant that each team should have a mixed “flavor” of European, Asian and African officers; it should have a mix of different cultural and religious varieties and there should not be repetition of the same country in the same team.
This was a big congregation of different cultures, military capabilities and distinct languages. Unlike NATO, the UN TCN did not have common procedures, standardized equipment, or the same phraseology. That said, the first difficulty everybody had during the indoctrination, was the UN Lexicon.
If someone mentioned something more than three times; it deserved an acronym. There were verbs, and adjectives, made out of acronyms.