Durante as Primeiras Eleições Livres Angolanas, que decorreram nos dias 29 e 30 de Setembro de 1992, os Angolanos votaram em massa, ultrapassando as previsões mais optimistas, com 92% dos eleitores inscritos (4 milhões e 400 mil pessoas) a exercerem pela primeira vez o dever/direito de voto. O número surpreendeu, já que se admitia uma taxa de abstenção na casa dos 20% a 30%. Os angolanos escolhiam entre 19 partidos, quem os iria governar.
No dia 01 de Outubro, depois do ato eleitoral, era a loucura total nos vários aeródromos espalhados pelo País, onde 10 oficiais da Força Aérea Portuguesa ao serviço da ONU, procuravam coordenar a operação aérea de suporte eleitoral. Todas aquelas urnas de voto tinham de ser rapidamente retiradas dos milhares de locais onde haviam sido colocadas por helicóptero, e reenviadas de imediato para Luanda em C-130. O que havia levado semanas a montar, teria de levar agora horas a desmontar.
Conforme os cargueiros aéreos iam levando as urnas de voto para Luanda, os votos no seu interior eram contados. Os resultados eleitorais, segundo os acordos de Bicesse, só deveriam ser formalmente anunciados no dia 08 de Outubro. Contudo, a comunicação social soube das contagens parciais e divulgou-as.
No dia 3 de Outubro, Jonas Savimbi (então líder da UNITA) dirigiu uma «Mensagem à Nação», na qual expressava que não aceitava os resultados das eleições, por ter havido fraude.

A violência estalou nas ruas da Capital e o conflito reacendeu-se por todo o País. A organização para ONU encarregada pelo apoio às eleições – Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD/UNDP) – decidiu ativar o plano de evacuação que tinha elaborado e chamar para Luanda os 10 oficiais da FAP que estavam colocados noutras tantas Províncias Angolanos.
Após a chegada de todos os oficiais da FAP a Luanda, os responsáveis do PNUD fizeram uma avaliação da situação de segurança. Aparentemente as Forças Governamentais continuavam a ter o controlo da situação em Luanda, mas o clima de Guerra Civil tinha definitivamente regressado a Angola, e, no dia 8 de Outubro, o PND decidiu ativar o plano de “Evacuação Internacional”.
Os 10 militares portugueses foram chamados ao Quartel-General do PUND em Luanda e receberam as instruções desse “Plano”. Para admiração do grupo, o tal “Plano” consistia em entregar a cada um o dinheiro (cash) do preço de uma passagem aérea para Lisboa; um aperto de mão com um agradecimento (escrito) pelo trabalho bem efectuado; e um “Adeus até à próxima”!
Nesse mesmo dia, andava perdido pelas ruas de Luanda um grupo de 10 portugueses, com 20.000 dólares numa carteira, à procura de uma agência de viagens que “ainda” tivesse 10 lugares num avião para fora de Angola, de preferência com uma ligação para Lisboa. Não era bem este tipo de “PLANO DE EVACUAÇÃO” que os oficiais Portugueses estavam à espera.
Obviamente que não foi tarefa fácil, porque todos os voos estavam esgotados. Quando já começavam a ficar desesperados, lá conseguiram um voo num voo para esse mesmo final de tarde, num Boeing 747 francês, em direcção a Paris.
Cerca de 20 minutos após a descolagem da capital de Angola, o comandante de bordo transmitiu no sistema de som da aeronave a seguinte mensagem:
– Caríssimos passageiros, informo que o Aeroporto de Luanda acaba de ser encerrado a todo o tráfego aéreo até futuras instruções. Aparentemente fomos um dos últimos aviões comerciais a sair de Angola”.
Tinha recomeçado a guerra civil em Angola, a qual só viria a finalizar em 22/02/2002 com a morte de Jonas Savimbi, numa região próxima de Luena, em Lucusse.
