O secretário-Geral das Nações Unidas – António Guterres – disse recentemente: “O conflito Sírio entrou no seu 10º ano, contudo a Paz continua a ser uma ilusão. Este conflito brutal causou um custo humano inconsciente e provocou uma crise humanitária de proporções monumentais”.
Em 2012,durante uma missão das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) recebi instruções para coordenar e facilitar junto das autoridades aeronáuticas da ISAF (NATO), em Cabul, o envio urgente de 60 carros todo-o-terreno blindados para a Síria. Conduzi pessoalmente parte desses veículos para dentro dos aviões de carga que, durante vários dias, vieram a Cabul buscar a preciosa carga para o sucesso da ONU na Síria. A UNAMA juntava-se assim ao esforço mundial da ONU para ajudar a resolução do conflito Sírio, enviando uma parte importante do seu parque automóvel para a sua missão irmã em Damasco.

Contudo, passadas algumas semanas foi a desilusão total quando soubemos que a situação de segurança na Síria se tinha degradado de tal maneira que tiveram de suspender as actividades da ONU naquele País, e evacuar os capacetes azuis. Os 60 carros blindados da UNAMA ficaram lá, .., sabe Deus nas mãos de quem e com que finalidade.
Passados quase 10 anos do início do conflito, a guerra na Síria não decresceu de intensidade, muito pelo contrário; passou a envolver potências estrangeiras, com nuances da Guerra Fria a terem tempo de antena mediática.
Porém, algo menos noticiado e, na minha opinião muito perigoso, tem vindo a ocorrer com consequências potencialmente desastrosas para todo o mundo. Aparentemente, as forças em conflito na Síria tinham um “apetite especial” por atacar e destruir instalações Hospitalares. Segundo um relatório das Nações Unidas mais de metade dessas instalações e equipamentos foram destruídos.
Simultaneamente, os movimentos de pessoas deslocadas das suas zonas residenciais atingiu números astronómicos (perto de dois milhões somente na região de fronteira com a Turquia). A Turquia tem dezenas de milhares de refugiados Sírios dentro do seu território, servindo de tampão para a União Europeia; situação que Ancara ameaçou poder vir a deixar de manter, como forma de pressão política para a União Europeia. Agora vem a derradeira pergunta, actualizada aos mais recentes acontecimentos: “Como é que tudo isto reage à pandemia do Corona vírus?”
Concentrações de pessoas sem qualquer tipo de protecção contra a inclemência do clima; sem apoio de infra-estruturas médicas; com o risco elevadíssimo de contágio pelo novo vírus; às portas da Turquia que, por sua vez, tem uma população imensa com forte implementação na Europa. Como é que isto vai ser?
Ou me engano muito, ou Donald Trump vai faltar-se de rir quando vir o seu muro a ter novas versões nas fronteiras externas da Europa.
Ou seja … entandam de uma vez que as guerras dos outros … são as nossas guerras também. Parem!
