O Sarampo do Tijolo

Em 1992, quando a ONU organizou a campanha aérea para as “primeiras eleições livres angolanas”, um grupo de 10 oficiais da Força Aérea Portuguesa foi destacado para Angola. A sua missão era gerir a actividade aérea da ONU.

 Coube-me a Província do Moxico, com capital em Luena (antigo Luso). A Guerra Civil Angolana tinha causado avultados danos materiais e humanos na capital do Moxico. Já dentro de Luena, era chocante verificar que todos os edifícios com um porte mais imponente, provavelmente governamentais, estavam completamente metralhados. Parecia que uma doença horrível tinha atacado os prédios. Uma espécie de “sarampo do tijolo”, uma maleita degenerativa que deformava as casas, fazendo cair as telhas e roendo as arestas. Não se conseguia encontrar 50 centímetros de parede que não tivesse um impacto de bala. No ar, permanecia um odor a materiais queimados. Via-se destruição causada por mero divertimento, ou vingança, sem qualquer utilidade táctica.

Huambo

Voltei a ver as mesmas cenas na Bósnia e depois no Afeganistão, mas nunca entendi a razão de “spraiar” as paredes de uma casa com balas … só porque sim.

As pessoas quando morrem, enterram-se e desaparecem de vista … mas os edifícios … esses permanecem ali; imoveis sofredores; ostentando as suas feridas de guerra até que o tempo os derrube ou a mão do Homem os recupere.

Publicado por Paulo Gonçalves

Retired Colonel from the Portuguese Air Force

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