Estórias de missão – O heroísmo Bossa Nova

Nas missões de Apoio à Paz por vezes acontecem coisas muito preocupantes, mas que, quando recordadas muitos anos depois, não deixam de ter um toque de pitoresco, com algum humor à mistura. Recordo um camarada brasileiro, Observador Militar da UNPROFOR na Bósnia Herzegovina, tal como eu, que havia sido aprisionado por forças Sérvias e usado como “escudo humano” contra os ataques aéreos da OTAN em 1995.

Era um Capitão absolutamente excepcional, que conseguia aliar os seus sólidos conhecimentos castrenses a uma personalidade divertida, e que levou a sua detenção de uma forma absolutamente desportiva.

Era mesmo um exemplo de resiliência e boa disposição, reconhecido por outros elementos da ONU que estavam na mesma situação. Estava tudo a correr muito bem, até que um soldado sérvio decidiu mexer no seu saco de pertences e descobriu umas cassetes áudio, com música de Maria Bethânia. Para aquele UNMO brasileiro, aquilo era passar para além da linha vermelha.

”Levem tudo; mas não me levem a Bethânia”. – Terá dito em desespero de causa.

O Sérvio não ligou e o Brasileiro mostrou-lhe a fibra da selva Amazonica, A coisa acabou correr mal, porque o brasileiro reagiu com agressividade e sofreu as consequências. Ficou sem a Maria Bethânia e com alguns hematomas para recordação do “heroísmo Bossa Nova”.

Coisas de uma missão de Paz … naturalmente.

Publicado por Paulo Gonçalves

Retired Colonel from the Portuguese Air Force

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