Surgiram esta semana vários comunicados informando que os Estados Unidos teriam encetado conversações com a liderança Taliban para o fim do conflito no Afeganistão. Não deverá ser novidade para ninguém, uma vez que estamos (2020) em ano de eleição Presidencial nos Estados Unidos. Efectivamente, a resolução de problemas além-fronteiras tem sido (e ainda bem que assim é) temática de campanha eleitoral Americana desde… sempre.
Como é sabido (ou talvez não) os americanos têm um sistema complexo de eleições, onde o Presidente pode “medir o pulso” da sua reeleição através dos resultados das eleições intercalares (Senado e Congresso) que ocorrem a meio do seu mandato (daí chamarem-se “Mid-Term Elections”).
As iniciativas de Guerra e Paz americanas, decididas “lá dentro” para acontecerem “lá longe” à maneira “pentagonista”, geralmente coincidem com as datas eleitorais USA. É uma espécie de Diplomacia Internacional para consumo eleitoral interno.
No caso específico Afegão, que já assistiu a muitas retracções de forças estrangeiras, resta saber que tipo de presença o “tio Sam” irá manter no País, porque a retirada pura e simples é algo que já foi feito várias vezes; e continua a haver forças internacionais no terreno.

Senão vejamos (só as mais importantes nas últimas 3 décadas):
2020 – Ano de eleições Presidenciais – Nova ronda de negociações USA/Taliban/Afeganistão, para acordos de paz e potencial retirada de forças USA do Afeganistão.
2018 – Ano de eleições intercalares (Congresso e Senado) – Diplomatas USA têm encontros com a liderança Taliban para preparar o fim do conflito no Afeganistão.
2016 – Ano de eleições Presidenciais – Proposta USA/Rússia para a paz na Síria.
2014 – Ano de eleições intercalares (Congresso e Senado) – Extinção da ISAF (Afeganistão) com retirada massiva de tropas. Guerra contra o Estado Islâmico no Iraque e Síria. Guerra Civil da Líbia.
2012 – Ano de eleições Presidenciais – Aumento exponencial de forças USA no Afeganistão para acabar com o conflito.
2010 – Ano de eleições intercalares (Congresso e Senado) – Nova ronda de negociações de paz Israelo-palestinianas patrocinadas pelos Estados Unidos. Negociações sigilosas USA/Taliban para o fim do conflito Afegão.
2008 – Ano de eleições Presidenciais – Negociações de paz Israelo-palestinianas patrocinadas pelos Estados Unidos.
2006 – Ano de eleições intercalares (Congresso e Senado) – Os Estados Unidos envolvem-se mais na guerra interna Iraquiana; assim como no apoio a Israel na guerra Israelo-palestiniana e na Guerra Civil Somali.
2004 – Ano de eleições Presidenciais – A Reunião magna da NATO anuncia o fim da SFOR (Bósnia) com a retirada de forças USA.
2002 – Ano de eleições intercalares (Congresso e Senado) – Senado Norte Americano aprova a resolução para o uso da força militar contra Saddam Hussain (Iraque). Início da Força Internacional liderada pelos Estados Unidos (ISAF) no Afeganistão.
2000 – Ano de eleições Presidenciais – Tentativa (falhada) de Acordos de Camp David Israel-Palestina, promovido pelos USA.
1998 – Ano de eleições intercalares (Congresso e Senado) – Acordos de paz US/Israel/Palestina para Faixa de Gaza.
1996 – Ano de eleições Presidenciais – Entrada em vigor dos Acordos de Dayton, promovidos pelos USA, para o fim da Guerra na Bósnia e começo das operações NATO (IFOR) na Bósnia-Herzegovina.
1994 – Ano de eleições intercalares (Congresso e Senado) – Acordos de paz Israel-Jordânia promovidos pelos USA.
1992 – Ano de eleições Presidenciais – Estados Unidos fortemente envolvidos na resolução dos conflitos da ex-Jugoslávia.
Pode parecer uma postura cínica … se calhar até é … mas ainda bem que assim é! Porque, se não for assim não há resolução de conflitos. Quer queiramos que não, actualmente, os Estados Unidos são a potencia hegemónica com capacidade de travar as guerras que os outros começaram.
